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“A guerra de classes começou. Trabalhadores foram fuzilados ontem na frente do estabelecimento Mac Cormick. O sangue deles grita por vingança! A dúvida já não é possível. As bestas selvagens que nos governam estão ávidas pelo sangue dos trabalhadores! Mas os trabalhadores não são gados de matadouro. Ao terror branco, responder com o terror vermelho. É melhor morrer que viver na miséria! Posto que nos metralham, respondamos de maneira que os nossos patrões guardem a lembrança por muito tempo. A situação faz tomar as armas um dever! Ontem à noite, enquanto as mulheres e as crianças choravam os seus maridos e os seus pais caídos sob as balas dos assassinos, os ricos enchiam os seus copos e bebiam, nas suas suntuosas residências, à saúde dos bandidos da ordem social… Sequem as vossas lágrimas mulheres e crianças que choram! Escravos, elevem os corações! Viva a insurreição!”
Parsons e Spies – “Mártires de Chicago”
Aí está como, em 1886, em Chicago, os trabalhadores já nos mostravam como responder aos monstros capitalistas que, sem escrúpulos, exceto o de aumentar os seus lucros, lançam milhares de trabalhadores sobre o precipício sem nenhum recurso.
A demissão dos 1.200 trabalhadores da fábrica Mac Cormick de Chicago, em Fevereiro de 1886, quando dos preparativos da grande greve para impor a redução do dia de trabalho para 8 horas, não fez mais do que reforçar a decisão dos proletários de lutar contra as suas miseráveis condições de vida, contra a sua dependência de um sistema que promete apenas trabalho, sem outra perspectiva que não a de tirar-lhes a pele, ou que os expulsa da fábrica enquanto que só lhes é possível, para sobreviver, vender a sua força de trabalho. Portanto, todas as noites, os proletários reuniram-se e apesar das centenas de meganhas que tentavam impedi-los, eram cada vez mais numerosos. A vontade de combater se endurece. Às vésperas do 1 Maio, 25.000 trabalhadores participam da reunião. 1° de Maio: 350.000 grevistas paralisam a produção. Em Chicago, o movimento explode. Mas, a 3 de Maio, as milícias privadas, mercenários do capital, fuzilam os proletários que permanecem em luta, reunidos na frente da fábrica Mac Cormick. No dia seguinte, as fileiras se reforçam numa manifestação contra a repressão brutal que fez jorrar o sangue de camaradas; 15.000 pessoas gritam por vingança. Os gendarmes lançam-se à carga, mas os trabalhadores os neutralizam; uma bomba mata 7 gendarmes e fere 60. A burguesia escaldada de horror toma como reféns os chefes do movimento. O infame processo montado de todas as peças, maquinação que a justiça burguesa ainda reproduzirá milhares de vezes, condena 6 dos líderes do movimento à cruel agonia do enforcamento.
“Acreditais, senhores, que quando os nossos cadáveres forem pendurados na forca, tudo estará acabado? Acreditais que a guerra social cessará quando nos estrangularem selvagemente?”
Declaração de Parsons no processo.
Não, hoje, apesar de toda a lavagem cerebral perpetrada contra-revolução, a memória dos “mártires de Chicago” como todos os outros crimes destes cães sangrentos do capital, não se apaga. Apesar dos bálsamos mistificadores que a burguesia esparramou para camuflar as ondas de sangue proletário que fez correr, a cicatriz confirmará sempre os golpes levados e nos recordará que para bater estes urubus, a nossa luta deve ser sem piedade.
É para coroar anos de luta contra a imunda exploração imposta pela burguesia ao proletariado que uma associação operária decidiu organizar uma grande greve para obter a redução do tempo de trabalho a 8 horas por dia, em 1° de Maio de 1886. Eixo central da luta contra a exploração, esta reivindicação reaviva a memória das duras batalhas que a classe operária já efetuou – em 1832 nos Estados Unidos para obter a jornada de 10 horas, em 1833-34 na Inglaterra, para a jornada de 8 horas – enfrentando à repressão implacável que os guardiões do capital ávidos por cadeia e sangue exerciam sem repouso. Portanto, as grandes greves dos trabalhadores que marcaram os anos 1886 a 1890 nos Estados Unidos, tiveram um eco internacional. Em 1889, é no mundo inteiro que a data do 1° de Maio foi retomada como momento de um vasto compromisso de todos os proletários decididos a arrancar uma redução do tempo de trabalho e de maneira mais geral, lutar contra a exploração, contra o trabalho, pela destruição de toda sociedade de classes. E os que se batiam por isto, pela revolução comunista, sabiam que apenas obteriam o que seriam capazes de impor pelo vigor das suas organizações, pela força das suas ações.
É em 1890 que, primeira vez, o 1° de Maio foi um dia de solidariedade internacional da classe operária. Esta manifestação era a uma só vez a celebração dos “mártires” da repressão burguesa e uma afronta ao conjunto da ordem burguesa, a expressão de uma vontade de resistência à exploração capitalista e a esperança de uma emancipação total do jugo da escravidão assalariada. Com uma força igual ao entusiasmo dos trabalhadores, a burguesia então odiava e temia este 1° de Maio vermelho em que a bandeira tingida pelo sangue do trabalhador tornava-se senhora das ruas de todas as grandes nas cidades industriais do mundo. Cada 1° de Maio tinha se tornado uma preparação ativa para a guerra civil internacional, para a revolução. A burguesia estabelecia verdadeiros estados de sítio às vésperas deste dia. Nas fábricas, a espionagem e a provocação eram decuplicadas, os trabalhadores suspeitos, demitidos. Nenhuma medida era julgada demasiado rigorosa para desencorajar os grevistas. Durante semanas, a polícia incomodava, as fichas dos suspeitos eram revisadas sem cessar e completadas, as reuniões operárias proibidas, os militantes preventivamente procurados. Mas, do seu lado, o proletariado decidido a lutar organizava-se. Os silêncios da noite nos bairros operários protegiam um trabalho febril. Nas adegas, as tipografias clandestinas publicavam milhares de chamados à luta. Os sótãos das casas tornavam-se as sedes das reuniões. Os trabalhadores supervisionavam os bairros, detectavam os informantes e provocadores. Os muros cobriam-se a cada noite de novas proclamações. À aurora do grande dia, todas as fábricas eram silenciosas, a classe operária estava na rua. A repressão sangrenta, o massacre de Fourmies, as cargas de Cossacos, os sabres das guardas móveis nada mais faziam do que galvanizar a combatividade dos trabalhadores.
Em Vienne (França) em 1890, nenhuma manifestação de força foi forte o bastante para impedir que surgissem aqui e lá, em vários pontos da cidade ao mesmo tempo, os batalhões operários; dispersados sobre um ponto, reformavam-se sobre um outro, erguendo barricadas; a multidão dos manifestantes dirigiu-se para o bairro das fábricas. Quem foi que, num gesto de revolta, lançou os desprovidos da indústria têxtil ao assalto dos armazéns de uma grande fábrica de pano? Em um piscar de olhos, a loja é invadida e 400 metros de pano são distribuídos aos que não tinham com o que se vestir.
Em Fourmies em 1891, até o fim de Abril, trabalhadores de uma fábrica importante puseram-se em greve, reclamando um aumento de salário. Os proprietários se opuseram. O 1° de Maio chegou. Os grevistas decidem fazer uma tentativa para convencer os seus camaradas de uma fábrica similar. Os 500 ou 600 grevistas lá se encontram em frente a um pelotão da gendarmeria… os distúrbios terminam em fuzilaria. Mais de 80 proletários caem, 9 dos quais assassinados.
A luta que presidiu à instauração do 1° de Maio de cada ano, como dia de solidariedade internacional da classe operária, era, por conseguinte uma luta contra toda a crueldade do sistema capitalista que “libertou” os homens da servidão para melhor submetê-los ao jugo da lei do valor, que reduziu a força de trabalho a uma mercadoria, separando ainda mais os trabalhadores do produto do seu trabalho. Assim, a burguesia realizou a grande obra (!) de submeter o mundo inteiro a um mesmo sistema de exploração, forçar milhões de homens a não poder sobreviver senão pela venda da sua força de trabalho, de conectá-los ao trabalho pelo salário até o esgotamento das suas últimas energias. E quando o crescimento da sua taxa de lucro o exige, estes mesmos capitalistas não hesitam em expulsar milhares e até mesmo milhões de proletários do processo imediato de produção, deixando-os estagnar no exército de reserva que constituem os desempregados. Após ter bombeado todo o nosso suor para enriquecer um sistema que não traz o mesmo para nós, os vampiros capitalistas deixam-nos sem outro recurso que não o de morrer a fogo brando sobre um mercado da força de trabalho sobre-saturada, da qual se aproveitam, além disso, para reduzir os salários do conjunto da classe operária.
É contra este sistema de produção, mais violento que todos os outros que faz que entre as mãos de uma minoria sempre mais restrita acumulem-se todas as riquezas deste mundo, enquanto priva meios de subsistência mais elementares a outra parte incessantemente crescente da humanidade, que os trabalhadores de Chicago, de Londres, de Paris, de Petrogrado,de Shangai… lutavam.
Se tantos trabalhadores não hesitavam em pagar com a sua vida a defesa desta luta, é porque ela simbolizava a solidariedade internacional que unia a um só golpe todos os conflitos locais, impulsionando novas iniciativas de generalização dos combates de classe. Era a sua luta.
Mas a combatividade que animava as primeiras grandes lutas para a redução do tempo de trabalho embotou para reatravessar o oceano sobre o barco da social-democracia (que, no seu congresso de Paris, em 1889, retomou por sua conta a organização internacional do 1° de Maio). Enquanto que as grandes greves demonstravam que os trabalhadores obteriam apenas o que seriam capazes de impor, o 1 Maio cedeu lugar a cortejos, a petições, às intimações junto a poderes públicos, abandonando pouco a pouco o terreno das confrontações de classe. Já em 1889, o congresso socialista de Paris especificava que queria que: “…em todos os países e em todas as cidades simultaneamente, os trabalhadores põem, em um mesmo dia (1° de Maio), os poderes públicos no comprometimento de reduzir legalmente o dia de trabalho às 8 horas…”
Este discurso já reflete o feiticismo da legalidade, o reformismo da social-democracia que implicou cada vez mais ao 1° de Maio deixar o terreno da luta de classes para naufragar sobre o da democracia. Instaurando uma divisão entre luta “econômica” e luta “política”, limitava as lutas de resistência à exploração capitalista a fábrica, e tirava qualquer alcance revolucionário. Encarregando-se defender as reivindicações proletárias no Parlamento, alterava a sua própria substância. Da rua ao Parlamento, a luta de classes foi transformada em luta pelas reformas do Estado. Assim a reivindicação burguesa do sufrágio universal suplantou as reivindicações operárias. Por esta obliqüidade, a social-democracia, não somente enterrava as lutas, mas também, reforçava a ideologia burguesa que queria fazer-nos crer que na sociedade capitalista, temos algo a ganhar e que o direito de voto seria uma arma em nossas mãos. Mas como força de atomização que quebra qualquer solidariedade de classe, não se faz melhor! Durante quinze anos, o democretinismo reinou, desviando as lutas de classe para o pântano parlamentar, transformando a defesa intransigente dos interesses da classe operária em traidoras conciliações com o capital. E é este mesmo movimento que levou a social-democracia a chamar os proletários a não se fraternizarem e unirem-se mundialmente contra a crueldade capitalista, mas a se matarem sobre os fronts da primeira guerra imperialista mundial em 1914.
Mas com a retomada geral das lutas contra o capital em 1904, 1905, 1906, com a sabotagem da primeira guerra imperialista mundial em 1917, em 1918… o proletariado reafirmou o seu 1° de Maio de luta. [...]
Mas a burguesia mundial, abalada por esta gigantesca onda revolucionária, agrupa-se por detrás da sua fração social-democrata para esmagar no sangue a revolta operária portadora de um mundo novo, para salvaguardar o seu miserável sistema de exploração. Verdadeiro verdugo da revolução mundial, a social-democracia assassina os chefes proletários [...]. A onda revolucionária que não tem invertido a relação de forças mundial burguesia/proletariado a seu favor, foi destruída e o capitalismo pôde contar com a reconsolidação do Estado burguês na Rússia para reassentar a sua dominação infame sobre os cadáveres ainda quentes dos trabalhadores mortos por ter tentado instaurar a comunidade humana mundial.
Aí está porque após este canibalismo sem precedente, proletários batidos, desarmados, encaixou-se a contra-revolução dos fascismos e das frentes populares.
Aí está porque de 1936 para 1945, sujeitados à burguesia que triunfa, bateram-se num campo como no outro, contra os seus irmãos de classe, para maior bem do capital.
Aí está porque em 1947, o Estado belga decreta o 1° de Maio a “festa do trabalho”, dia de feriado legal, aprovando assim a obra da contra-revolução.
Do dia de afronta à ordem capitalista à celebração da vitória do terror democrático, não há evolução… há ruptura, há antagonismo de classe. Um é o nosso 1° de Maio, o da classe operária mundial, outro é o do capital.
Durante dezenas de anos, o internacionalismo proletário rendeu lugar à glorificação do desenvolvimento da economia nacional; as batalhas de rua para a abolição do salário cederam lugar a passeios inofensivos, a desfiles militares, ao elogio da democracia. Mudos sobre a luta de classe contra a exploração capitalista e para a reapropriação do conjunto do produto social, todos os burgueses, da esquerda à direita, congratularam-se por detrás da paz social que reinou e, que têm ao menos 100 milhões de mortes no seu ativo, pedem-nos ainda para respeitar este pacifismo e renunciar, inclusive em pensamento, a qualquer violência revolucionária.
Mas se as forças da contra-revolução rechaçaram o assalto revolucionário do proletariado [...] por toda a parte no mundo, se desmembraram o corpo do proletariado e minaram a revolução, não podem matá-los. O movimento comunista se elevará necessariamente dos cataclismos que o capitalismo suscita inevitavelmente e nenhuma força não poderá impedi-lo de tirar lições das suas derrotas de ontem, e das condições da vitória de amanhã.
Estas longas e penosas décadas de democracia aí estão para demonstrar que o parlamentarismo não é outra coisa que não um pilar da conservação da ordem capitalista, uma simples camuflagem do terror de Estado; para demonstrar que as reformas, longe de representar “conquistas proletárias”, são apenas consolidações da opressão capitalista e que têm sobretudo a função de desarmar o proletariado perante as novas crises. Estes longos anos de expansão desenfreada da produção capitalista estão aí também para negar que o bem-estar do proletariado seja ligado ao da economia nacional. Aproveitando a contra-revolução triunfante, a burguesia aumentou ainda mais a taxa de exploração, a intensidade do trabalho, o grau de embrutecimento, o desemprego, as migrações, as deportações, os genocídios, a miséria, a fome, a insegurança, o despotismo na fábrica e em toda a vida social. Não há conciliação possível entre os interesses do proletariado e os da burguesia.
Camaradas proletários,
Hoje novamente, o capitalismo vomita a sua crueldade. A crise desencadeia a ferocidade dos capitalistas, o terror de Estado se reforça. E a burguesia gostaria que o proletariado docilmente se deixasse amordaçar, que conceda em fazer sacrifícios para satisfazer os apetites ameaçados dos seus exploradores. Um século após as grandes greves proletárias para impor a jornada de 8 horas, vivemos sempre como condenados obrigados a se vender às prisões do trabalho e aos sindicatos, estes meganhas do patronato, que quebram as nossas greves, que quebram as nossas lutas… em nome de uma pretensa redução do tempo de trabalho, em nome de uma pretensa luta contra o desemprego, eles nos passam o ataque dos salários, a intensificação do trabalho, as demissões, a extensão do trabalho precário, as exclusões do desemprego…
A situação catastrófica da economia burguesa não pode em nada obstruir as nossas lutas. O que interessa-nos, não é a reforma do Estado deste sistema bárbaro, nem a sua versão socialista, nem stalinista, nem cristã, nem fascista… mas a sua destruição por completo.
Aos capitalistas que querem de novo arrastar-nos em uma guerra imperialista mundial, respondamos intensificando as nossas lutas contra todas as frações da burguesia, contra todos os Estados capitalistas do oeste assim como do leste. Às ordens de mobilização, respondamos voltando os nossos fuzis contra os nossos oficiais, transformando a guerra imperialista em guerra civil internacional, classe contra classe.
Camaradas proletários,
Para ter forças para destruir a besta capitalista, as suas guerras, a sua miséria generalizada, a nossa condição de escravo assalariado, devemos lutar agora, prepararmos as nossas lutas futuras no mundo inteiro. É necessário organizar-nos fora e contra os órgãos burgueses que são os sindicatos. Devemos reaprender a utilizar as nossas armas de classe: a greve selvagem, sem pré-avisos nem limitação de nenhuma espécie; a autodefesa operária, o armamento dos piquetes, a sabotagem da produção dos excedentes. Devemos generalizar as nossas lutas, unir-nos para além das barreiras capitalistas, para além as diferenças de nacionalidade, de sexo, de estatuto, para além das divisões setoriais, das fronteiras regionais, nacionais…
Devemos refazer o 1° de Maio como um dia de solidariedade internacional, unindo todos os combates operários do mundo inteiro, numa frente de classe capaz de retornar ao assalto do mundo. Face às potentes fortalezas que a burguesia edificou e edifica-as ainda para a defesa da sua sociedade de exploração, é necessário organizar-nos em força revolucionária internacional, centralizada e centralizadora, em partido mundial da revolução.
Ao Estado capitalista, ao seu Parlamento, às suas eleições, aos seus partidos, aos seus sindicatos, vamos opor a nossa própria organização em classe, para a defesa dos nossos interesses.
Ao desenvolvimento da repressão anti-operária, à violência burguesa, respondamos com a ação direta, com a organização da violência operária.
Contra a histeria nacionalista e as campanhas de preparação à guerra, icemos a bandeira do derrotismo revolucionário, do internacionalismo proletário.
Contra a festa do trabalho, retomemos os combates do 1° de Maio revolucionário.
Post Scriptum: Este texto foi publicado pela primeira vez pelo Grupo Comunista Internationalista (GCI) em 1° de Maio de 1986, para marcar o centenário dos acontecimentos de Chicago. Nós está republicando hoje embora com alguns supressões menores [entre parênteses], assumimos a tradução para o Inglês e Tcheco, e plena responsabilidade política e sua distribuição internacional.